Por Bruno Saint’ Clair
brunosclair@odiadia.com.br

O grande vilão das escolas particulares sempre foi o alto índice de inadimplência. Com a crise financeira instaurada definitivamente no Estado do Rio de Janeiro, as instituições privadas de ensino da capital fluminense estão fechando as portas. Apenas corroboram com os dados do Centro Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixiera (Inep), que entre os anos de 2013 e 2015, indicaram que foram fechados 218 colégios. Isso representa um déficit de 2.039 para 1.821 unidades de ensino no Rio.

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Os dados do Inep tendem a aumentar para 2016, pois o Colégio Nosso Lar, no Engenho Novo, comunicou em outubro ao seu corpo docente, discente e colaboradores que terminará uma trajetória de 37 anos de ensino no fim deste ano. A mantenedora do colégio, Zilda Provenzano, 71 anos, com mais de 1/3 empenhados na instituição, alega dificuldades tanto da escola quanto dos pais.

– Devido à grande crise no país, estava muito difícil de prosseguir e os responsáveis também não estavam aguentando. Não que minha escola fosse cara, mas na situação que eles estão, procuravam outras escolas. Mesmo lamentando, porque não encontravam a nossa filosofia.

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Aluna da escola no período de 1979 a 1983, Renata Di Bartolo, agente de viagens, de 39 anos, é mãe dos alunos Isabelli e Gustavo Di Bartolo, 2 e 7 anos, sente que terá dificuldades de encontrar outra escola com os valores que o Nosso Lar ensinou.

– O sentimento que o Nosso Lar vai nos deixar é de orfandade. Na minha época já se falava sobre inclusão social, então imagina lá em setenta e nove você já ter amigas especiais em sala de aula. Eu vou deixar de ser a mãe da Isabelli e do Gustavo, para ser a responsável financeiro da matrícula 597 e 598.

Diretora Zilda com ex-alunos do colégio | Foto: Acervo da escola

Diretora Zilda com ex-alunos do colégio | Foto: Acervo da escola

Homenagem pelos 37 anos dedicados à educação

Alunos, professores e colaboradores do passado e do presente se reuniram para agradecer à diretora Zilda Provenzano, na última sexta-feira (02). Em clima de grande emoção, tanto por parte da educadora quanto dos colegas presentes, o que era para ser uma homenagem se transformou em agradecimentos recíprocos.

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Diretora Zilda (à frente) com ex-funcionárias e amigos | Foto: acervo da escola

Com a voz embargada devido ao reencontro com aqueles que contribuíram para formar a “Família Nosso Lar”, emocionou a todos quando lembrou do seu companheiro de jornada, o saudoso Senhor Fernando.

nosso-lar-4“Agradeço a Deus e ao meu marido por tudo, pois certa vez ele me disse que eu não poderia aprender a profissão dele (era militar), mas que ele poderia aprender a minha. Ele aprendeu tanto, que juntos idealizamos o Nosso Lar. Que passou a não ser mais apenas nosso, mas de todos vocês.”


A redação do O Diadia conversou com a Tia Zilda, como é conhecida por todos, confira:

Qual o legado que o Colégio vai deixar para a sociedade?
O maior legado vai ser de fé, esperança, honradez, dignidade e vontade de tornar a si próprio e o país cada vez melhor, porque só através da educação um país pode crescer.

Se pudesse mudar algo, o que teria feito de diferente?
Podem acreditar, eu não me arrependo de nada que eu fiz na vida. Porque mesmo com os meus erros eu fiz acreditando no que estava certo. Se eu tivesse que recomeçar minha vida de novo, com todos os seus pedacinhos menores possíveis, eu faria tudo de novo… tudo de novo!

Se hoje fosse o último dia de aula e todos os ex-alunos e alunos estivessem presentes, qual mensagem deixaria para eles?
Tenham fé, esperança e nunca deixem de realizar os seus sonhos. Busquem seus sonhos até a última gota de sua vontade e da sua força. Nunca desistam dos seus sonhos.

Diretora Zilda com as ex-diretoras pedagógicas Carmina Mattos (esq) e Eliane Hollanda (dir).

Diretora Zilda com as ex-diretoras pedagógicas Carmina Mattos (esq) e Eliane Hollanda (dir).


Outras instituições anunciam o fechamento

O Colégio Nossa Senhora da Piedade, situado na Zona Norte da cidade, após 102 anos de ensino tradicional na região, informou também o encerramento das atividades no próximo ano letivo. No comunicado postado no site oficial da instituição, dizem ter capacidade para 2.500 alunos, mas que atualmente havia apenas 542. Em nota, a direção explica que buscaram medidas para evitar o fechamento.

“Durante muitos anos utilizamos diversas estratégias para atrair novos alunos, sobretudo nas turmas iniciais. Buscamos também alternativas de redução de custos, sem prejudicar o bom andamento do Colégio. Ainda assim, analisando o cenário atual e as perspectivas do mercado, deduzimos que não há possibilidade de reversão da situação financeira do NSP.”

A crise do Estado do Rio de Janeiro não afeta apenas os colégios da Zona Norte da capital carioca. Fundado em 1936, um dos colégios mais tradicionais do Rio, localizado na Zona Sul da cidade, o Colégio Santa Rosa de Lima em Botafogo, vai encerrar uma história de mais de oito décadas de existência.

 

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