Nas últimas semanas o ficcional das séries e o factual dos noticiários se misturaram e os nossos adolescentes foram colocados à prova para desvendarem “13 porquês ou 50 desafios”. Ambos disponíveis ao alcance das mãos sejam por um celular ou controle remoto.

No fim de março estreou na plataforma OnDemand do NetFlix a série americana “13 Rasons Why”. Baseada no livro homônimo de Jay Asher, adaptado por Brian Yorkey para o serviço de streaming e batizada no Brasil como “Os Treze Porquês”. A trama passa numa High School, equivalente ao nosso Ensino Médio, e narra a história de uma adolescente que sofreu bullying e gravou fitas cassetes para tentar “justificar” a 13 pessoas como elas contribuíram para o seu suicídio.

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A jovem Hannah sofre bullying na escola. | Foto: divulgação internet.

Especialistas alertam os pais para ficarem atentos no comportamento dos filhos, sobretudo, nos acessos às redes. O professor-doutor Luís Fernando Tófoli da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatra, em sua página do facebook disponibilizou 13 parágrafos de alerta sobre “13 Reasons Why” para pais, educadores e profissionais de saúde. No entanto, o psiquiatra inclui um parágrafo adicional que segundo ele fora motivado por alguns comentários e do qual classificou como a 14ª gravação.

Gostaria de frisar que não defendo de maneira alguma a censura ou a proibição da série, e muito menos que se evite o debate das questões seríssimas do bullying, da violência de gênero e do estupro. A questão é de, sem querer ofender quem amou a série, refletirmos juntos se alguns cuidados poderiam ser tomados para evitar o prejuízo a pessoas fragilizadas. Elas são a minoria da população, mas o impacto já foi medido e mais de um estudo sobre o efeito Werther (“Os Sofrimentos do Jovem Werther”, livro do século XVIII). A pergunta aqui é: será que o meu entretenimento vale a vida de alguém? Será que ao recusar ao olhar os vacilos da produção da série eu não estarei contribuindo de alguma forma para o suicídio de alguma Hannah da vida real? Grato a todo mundo pelo interesse.

ENTRETENIMENTO REAL E FATAL

O ato contra a vida também foi motivo de notícias nas páginas policiais de todo o país nos últimos dias com o jogo “Baleia Azul” ou Blue Whale. Criado em 2015 na Rússia, esse jogo circula nas redes sociais e lança 50 desafios aos jovens. Passando por atividades corriqueiras, chegando a mutilações e finalizando, literalmente, com a vida.

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Adolescente fere o próprio corpo em um dos desafios do jogo. | Foto: divulgação internet.

A Inspetoria São João Bosco (ISJB), instituição católica e administrada pelos salesianos de Dom Bosco atua na educação, evangelização e assistência social da juventude nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Tocantins, Goiás e no Distrito Federal. Conhecida no segmento educacional como Colégio Salesiano publicou em seu site uma carta aberta aos responsáveis, alertando sobre os riscos da série do Netflix e do jogo no WhatsApp.

“Nas últimas semanas, dois assuntos têm chamado a atenção de crianças e adolescentes e gerado discussões entre formadores de opinião em jornais, sites e redes sociais no Brasil e no mundo: a série “13 Reasons Why”, da Netflix, e o jogo Baleia Azul (Blue Whale). Especialistas chamam a atenção para o modo como a série e o jogo podem estimular comportamentos negativos, até mesmo o suicídio, especialmente entre os jovens que mais precisam de cuidados psicológicos”.

DENÚNCIAS SERÃO ANALISADAS

A Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) já possui 101 denúncias recebidas pelo Disque-Denúncia (2253-1177) de jovens que teriam sido aliciados por curadores pelo jogo Baleia Azul. O “curador” é o aliciador que envia os 50 desafios e se condenado pode pegar mais de 40 anos de prisão caso a vítima morra. Há indícios que os supostos casos ocorreram na capital nos bairros da Tijuca e Ilha do Governador, na Zona Oeste em Vargem Grande, na Baixada Fluminense em Nova Iguaçu e São João de Meriti e ainda, nos municípios de Niterói, Itaboraí e Cabo Frio.

RECOMENDAÇÕES IMPORTANTES

Especialistas e educadores se uniram e criaram algumas dicas para serem tomadas na prevenção contra o jogo e orientações para os que desejam assistir à série.

 – Jogo “Baleia Azul” 

  • Informar aos filhos a existência do jogo da Baleia Azul e seus perigos;
  • Instruir os filhos a não adicionarem estranhos nas redes sociais;
  • Monitorar o uso de smartphones e redes sociais;
  • Restringir o uso da internet em determinados horários;
  • Estar presente nos pátios virtuais e acompanhar o que o filho está fazendo;
  • Ficar atento a qualquer mudança radical no comportamento de crianças e adolescentes;
  • Acolher os filhos e conversar sempre que notar neles algum desconforto.

– Série “13 Reasons Why”

  • A série tem classificação indicativa de 16 anos. Menores devem assisti-la acompanhados dos pais ou responsáveis. Caso seu filho esteja assistindo, é essencial que você o acompanhe;
  • O serviço de streaming do NetFlix possui a opção de gerenciamento de conta, onde o usuário principal pode definir o que os demais podem assistir quanto ao gênero e classificação;
  • É importante conversar com os jovens e aprofundar as questões abordadas. Quais são as generalizações da série? Qual outra alternativa a protagonista poderia ter escolhido? Como ajudar um colega que sofre agressões na escola?;
  • É preciso ressaltar, sempre, que a vida é um dom divino e precioso, e que a depressão é uma doença passível de tratamento e cura.

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