Lembranças de um jovem torcedor…

Por Bruno Saint’ Clair
bsclair@gmail.com

Era 1º de maio de 1994, recordo-me que estava na casa da minha tia, onde passei o fim de semana com os meus primos. No entanto, eu havia decidido voltar para casa mais cedo naquele domingo, por um grande motivo: chegar a tempo de ver mais uma corrida do Senna. Acontece que eu não iria entrar numa Williams e sim numa Mercedes, só que daquele tipo que vai parando de ponto em ponto. Sem ideia alguma de que naquele dia, minha ansiedade e euforia se transformariam em incredulidade e sofrimento.

Já em casa, assisti à corrida que entraria para a história da Fórmula 1, o GP de San Marino, em Ímola, na Itália. Na 6ª volta, Galvão Bueno narrou “Senna bateu forte!” e horas depois veio a confirmação pelo repórter Roberto Cabrini “…não há mais esperança para Ayrton Senna, ele está clinicamente morto…”. Finalizou naquele momento a trajetória brilhante do nosso eterno Tricampeão mundial de Fórmula 1, Ayrton Senna da Silva. Só que ele não era “apenas mais um Silva que a estrela não brilha”… ele era o Ayrton Senna do Brasil.

Certa vez, um poeta compôs “meus heróis morreram de overdose”, a AIDS calou a voz do cantor e a Tamburello silenciou o motor do piloto. Um dia Senna nos presenteou compartilhando da sua dose excessiva de velocidade com essas palavras: “Eu estava me superando a cada volta e entrei em outra dimensão. Não via a pista, ela tinha virado um túnel. A distinção entre o homem e a máquina deixou de existir, me fundi com o carro, viramos a mesma coisa. Depois de cinco voltas, acordei para a situação de extremo perigo em que estava e fui para os boxes”.

Desta vez não seriam cinco voltas e os boxes e sim, a 6ª volta e a curva Tamburello. Senna acordou no céu e milhões ou até quem sabe bilhões, o velaram aqui na terra. A minha geração foi privilegiada, porque nós tivemos um verdadeiro super-herói, só que mortal e de carne e osso. Sua armadura não o protegeu e seus poderes ficarão guardados para sempre em nossas memórias.

Meses depois veio o tetracampeonato mundial de futebol nos Estados Unidos, um acalento para um coração sofrido, mas aquela vitória tão esperada há 24 anos, não superava uma derrota tão recente e cruel, porque não haveria uma revanche.  Apenas confortava, sobretudo quando do campo, nos mandaram a mensagem: “Senna… aceleramos juntos, o tetra é nosso!”.

Seleção Brasileira homenageia Senna, 1994.

Passaram-se 26 anos e alguns aspirantes a heróis até surgiram, mas nunca germinaram tão autenticamente no coração brasileiro quanto o nosso eterno Tricampeão.

Ao vivo da Itália, no mesmo domingo à noite, o repórter Pedro Bial mostrou imagens exclusivas feitas pelo cinegrafista da Globo, o francês Armand Deus, no box da Williams, antes da corrida. Na reportagem Bial acrescenta: “…mãos espalmadas sobre o aerofólio, fisionomia grave. Foram cinco longos minutos em que Ayrton parecia infinitamente sozinho. Ele veste o capuz pela última vez, ele põe o capacete pela última vez, olha de novo para o carro, não mexe um músculo, sai dos boxes para entrar na história do esporte e crivar de dor um país…”, veja reportagem na íntegra.

Senna momentos antes do fim. Foto: Reprodução Globo

Na verdade, Senna não estava sozinho naquele momento, mas novamente numa outra dimensão, orando a Deus que o recolheu para si, porque é para lá que vão os verdadeiros heróis.

Obrigado Senna!

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